A equipe realizou treinamentos com professores de escolas públicas das comunidades próximas ao sítio de pesquisa - Foto: Cybelli Barbosa/Atto

 

Por Josiane Santos

Comunicação LBA/Inpa-MCTI

 

Uma equipe de cientistas do Observatório de Torre Alta da Amazônia (Atto, Amazon Tall Tower Observatory, na sigla em inglês) desenvolveu uma plataforma digital, denominada Atto Escola, com diversos materiais didáticos para apoiar o aprendizado sobre temas como ar, nuvens, partículas e gases atmosféricos, ciclo da água e carbono, e outras áreas pesquisadas pelo projeto. O Atto é um projeto bilateral entre o Brasil, representado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), e a Alemanha, através do Instituto Max Planck de Biogeoquímica.

O projeto investiga a interação da floresta amazônica com os ciclos da água, de gases de efeito estufa, nutrientes, comportamento da floresta em respostas à mudança do clima, além da formação de partículas atmosféricas e de nuvens. Com uma torre de 325 metros de altura, o Atto dispõe da maior torre de observação científica das américas, e mais duas torres auxiliares de 80 metros instaladas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã, a 150 quilômetros de Manaus, no município de São Sebastião do Uatumã, no Amazonas. 

Lançado em agosto no Auditório Dr. Flávio Jesus Luizão, do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia (LBA/Inpa-MCTI), o Atto Escola foi idealizado para atender uma demanda da sociedade local. No mesmo mês de lançamento, a equipe realizou treinamentos com professores de escolas públicas das comunidades próximas ao sítio de pesquisa. O Atto é um projeto parceiro do Programa LBA. 

“A plataforma surgiu de uma demanda das comunidades para proporcionar mais transparência às atividades científicas do projeto que acontecem na área da RDS-Uatumã”, explica Cybelli Barbosa, pesquisadora do Atto, sobre o Atto Escola. 

Cybelli destaca a importância do treinamento sobre o uso dos materiais, permitindo que os professores se apropriem e alcancem outras pessoas. 

 Diálogos

Segundo Cybelli, o primeiro contato com a comunidade foi feito pelos técnicos de campo do Atto, que são os profissionais com presença mais frequente na região. A partir desse contato, os cientistas do projeto começaram a se aproximar das comunidades para esclarecer dúvidas sobre as atividades de pesquisa desenvolvidas no projeto. “As primeiras aproximações entre os cientistas e as comunidades foram para tirar dúvidas sobre as atividades/pesquisas que se desenvolvem no Atto”, explica. Há diversas comunidades ao longo da RDS-Uatumã, mas as mais próximas do sítio de pesquisa são: Bela Vista, Maracarana e Macacaboia.

Em 2018, com a primeira interação oficial de cientistas com as escolas locais, professores e líderes comunitários das comunidades mais próximas visitaram as instalações do projeto e conheceram suas estruturas. Esse contato gerou demandas que foram atendidas pelos cientistas do Atto e fomentaram o desenvolvimento do projeto Atto Escola.

Um exemplo de atividade iniciada com a parceria é a coleta de pilhas e baterias, a partir da necessidade de descarte adequado desses materiais. A primeira atividade de coleta, em 2019, recolheu quase uma tonelada desses materiais e a atividade desde então faz parte do calendário anual das escolas. “Isso é importante porque evita que o resíduo das pilhas polua os rios e contamine as águas que as pessoas consomem e utilizam para banho”, ressalta Cybelli.

Interação Amazônia, ciência e comunidade

O Atto Escola é uma plataforma digital interativa com diversos conteúdos, como cartilha, jogos, tutoriais, animações, vídeos (narrados e legendados), Guia Prático Atto e materiais para professores. O Guia Prático Atto é composto por cinco módulos interativos com vídeos e todo o conteúdo está relacionado com as pesquisas científicas desenvolvidas no Atto, alinhando aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU). Todos os materiais também estão disponíveis para acesso offline e download em formato PDF.

O módulo introdutório aborda os ODS e sua importância. O módulo, “Entendendo o clima da Amazônia” aborda os conceitos como tempo, clima, pressão atmosférica, ventos, chuvas e micrometeorologia. No módulo de partículas e nuvens na Amazônia, é possível aprender sobre aerossóis, fontes e processo atmosférico, e a formação das nuvens. Outro módulo aborda os gases de efeito estufa e gases reativos, além de suas propriedades. E há também um módulo sobre ciclo da água e do carbono na Amazônia.

Cada módulo tem oito etapas sequenciais  com “Ação e Reação” ao final de cada etapa para estimular o aprendizado. Além disso, cada módulo inclui o “Atto em Ação”, um espaço que apresenta as atividades científicas do projeto e depoimentos de cientistas envolvidos em cada área.

Outros materiais disponíveis para download incluem panfletos explicativos sobre o projeto Atto, além de uma cartilha intitulada Aventura na Amazônia - A floresta e as mudanças climáticas. “Todo material está disponível no site para que as escolas utilizem as informações da maneira que desejarem”, destaca a pesquisadora.

O Atto Escola também contou com a parceria do Árvore-Água, um perfil nas redes sociais que produz ilustrações que explicam de forma didática temas relacionados ao meio ambiente.

As atividades de educação ambiental nas comunidades também contaram com a colaboração da Associação Amigos do Peixe-Boi (Ampa) e do Grupo de Pesquisa em Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas (Grupo Maua), do Inpa.

 Parceiros

A iniciativa conta com apoio do grupo CloudRoots (Holanda), que também desenvolveu uma plataforma interativa em parceria com o projeto Atto, voltado às demandas locais na Amazônia. A plataforma disponibiliza experimentos físicos e biológicos relacionados à floresta e interação com a atmosfera.

Desenvolvida por pesquisadores da Universidade de Wageningen e da Universidade de Utrecht, ambas da Holanda, a plataforma visa transferir o conhecimento científico para as crianças. “É fundamental que as crianças conheçam a  atmosfera e a floresta do ponto de vista do que está acontecendo”, explica Jordi Vilà, da Universidade de Wageningen.

A plataforma Edu-CloudRoots apresenta os conteúdos nas diferentes escalas, desde local com experimentos físicos, observações meteorológicas e visualização de folhas com um microscópio, até global, com a introdução de um aplicativo que mostra dados de variáveis meteorológicas e de vegetação quase em tempo real, para uma visão geral do que está acontecendo na Amazônia e no resto do globo. Além disso, por meio de um jogo, é apresentado como tudo se conecta, tornando o aprendizado mais divertido.

O Edu-CloudRoots é financiado pelo Conselho de Pesquisa Holandês (NWO), uma organização holandesa de financiamento à pesquisa científica. 

Equipe 

A equipe envolvida no desenvolvimento e lançamento das plataformas digitais do projeto Atto Escola é composta por Cybelli Barbosa (Inpa); William Nascimento, bolsista do projeto; professor Abraão Carneiro; Roberta Souza, Gerente de Logística do Atto; Jordi Vilà, Oscar Hartogensis, Martin Janssens, todos do grupo CloudRoots da Universidade de Wageningen (Holanda); Hugo de Boer, da Universidade de Utrecht (Holanda); Viviana Horna, coordenadora científica do projeto do Atto (MPI-BGC); Susan Trumbore, coordenadora do projeto Atto (MPI-BGC); Bruno Takeshi, gerente operacional do Atto; Carlos Alberto Quesada, coordenador do projeto Atto e pesquisador do Inpa. 

 

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