O estudo “Dry season transpiration and soil water dynamics in the Central Amazon” recém publicado na revista científica Frontiers in Plant Science, liderado por pesquisadores brasileiros e americanos (por meio do projeto de cooperação científica internacional NGEE-Tropics) investigou a dinâmica da transpiração de árvores de terra firme em resposta à estação seca regular do ano de 2018. O estudo utilizou sensores de fluxo de seiva inseridos em diferentes profundidades no caule de árvores de platô na Amazônia Central. De modo concomitante às medidas de fluxo de seiva, também mediu-se a umidade do solo em diferentes profundidades. Essas informações foram coletadas numa alta frequência temporal (1 à 30 minutos), em conjunto com outras informações adicionais tais como amostras de madeira e biomassa de raízes finas em profundidades de até 2,35 m.

O artigo demonstrou que as espécies responderam à seca de modo diferente (algumas aumentaram e outras diminuíram o consumo de água durante o período seco). O uso diário de água variou entre 10 e 190 litros por árvore. Nesse cálculo, a área do xilema ativo foi estimada utilizando-se a equação alométrica desenvolvida por Aparecido et al., 2019 para a mesma região. Esses dados auxiliaram na “subida de escala” do consumo de água, partindo-se de árvores individuais para toda a floresta. Como resultado, estima-se que as florestas que ocorrem em áreas de platô (solo argiloso) na Amazônia Central, ao longo do período seco de 2018, liberaram para a atmosfera entre 17.000 e 33.000 litros de água por dia por hectare (1 ha equivale a uma área de 100 m x 100 m).

Nos solos argilosos da Amazônia Central, foram encontrados maiores quantidades de raízes finas nas camadas superficiais, que também estão relacionadas à maiores taxas de extração da água do solo. À medida que o período seco do ano de 2018 se prolongou, houve uma maior dependência de algumas espécies em acessar fontes mais profundas de água para  sustentar a sua transpiração. Em um contexto de mudança climática com temperaturas médias futuras mais elevadas e secas mais recorrentes, tais descobertas são imperativas para um melhor entendimento de como a floresta irá responder a essas mudanças. Além disso, a verdade de campo fornecida por esse estudo será essencial para a melhoria dos modelos atuais como o modelo E3SM-FATES (Energy Exascale Earth System Model – Functionally Assembled Terrestrial Ecosystem Simulator) que está em fase de desenvolvimento pelo projeto NGEE-Tropics.

 

O artigo

O artigo foi publicado em 24 de março de 2022 na edição especial “Extreme Climate Events: Are Woody Species Ready to Face Them? - Women in Plant Science Series” da revista científica internacional Frontiers Plant in Science. O trabalho é fruto da dissertação de mestrado do primeiro autor, orientado pelos pesquisadores Dr. Niro Higuchi e Dr. Bruno O. Gimenez e idealizado pelo Dr. Jeffrey M. Warren do Oak Ridge National Laboratory - EUA, em colaboração com o Los Alamos National Laboratory - EUA (LANL), e o Lawrence Berkeley National Laboratory - EUA (LBNL). O projeto NGEE-Tropics (Next-Generation Ecosystem Experiments-Tropics) é um grande projeto de cooperação científica internacional, aprovado por meio de expedição científica do CNPq (Processo nº 002395/2016-39) que pretende melhorar a nova geração de modelos climáticos globais e predizer com menores incertezas as respostas das florestas tropicais à mudança do clima.

Link para o artigo: Frontiers | Dry Season Transpiration and Soil Water Dynamics in the Central Amazon | Plant Science (frontiersin.org)

 

Texto: Gustavo Carvalho Spanner, doutorando do PPG-CFT

            Dr. Bruno Oliva Gimenez, pesquisador e docente permanente do PPG-CFT

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