Dia mundial das Áreas Úmidas: celebrando o inventário nacional com destaque na Amazônia

por Maiby Glorize da Silva Bandeira

(Bióloga (UNINORTE/AM), com mestrado (BADPI/ INPA/ AM) e doutorado (BAC/ FURG/ RS) voltados para a ecologia e a conservação de ambientes aquáticos e atualmente pós-doutoranda do PPG BADPI/ INPA, coordenadora do projeto Help-AUs (@help_aus_). Atua com área úmidas, biodiversidade e aspectos socioambientais de comunidades tradicionais. Lattes: http://lattes.cnpq.br/7404275401689357; Linkedin: https://www.linkedin.com/in/maiby-glorize-73030180/; Instagram: maiby_glorize)

As Áreas Úmidas (AUs) são definidas como ecossistemas na interface entre ambientes aquáticos e terrestres, continentais ou costeiros, naturais ou artificiais, permanente ou periodicamente inundados, ou com solos encharcados. Esses ecossistemas apresentam características físicas e químicas particulares, além da colonização de uma biota adaptada morfológica e fisiologicamente para viver nesses ambientes. Na Amazônia, exemplos de AUs são as várzeas, os igapós, os buritizais e as áreas úmidas temporárias das savanas, campinas e campinaranas (Figura 1).

 

Figura 1:Áreas Úmidas intermitentes das savanas amazônicas ("Lavrado" de Roraima)

As AUs exercem inúmeras funções como recarga dos aquíferos e do lençol freático, retenção de sedimentos, purificação da água, fornecimento de água limpa, dessedentação de animais silvestres e domésticos, irrigação de lavouras, regulagem do microclima, recreação (banho, pesca, lazer), ecoturismo, manutenção da biodiversidade, estocagem de carbono, recursos e moradia para populações tradicionais. No entanto, apesar de serem ambientes com elevada importância, estes estão entre os ecossistemas com maior perda entre os ambientes aquáticos, causada principalmente pelas mudanças ambientais antrópicas e do clima. 

Para proteger as AUs foi estabelecida a Convenção de Ramsar, tratado intergovernamental estabelecido em fevereiro de 1971, na cidade iraniana de Ramsar visando a proteção de áreas úmidas de importância internacional, criada inicialmente para proteger os habitats aquáticos importantes para a conservação de aves migratórias. Ao longo do tempo, houve um aumento na preocupação com as demais AUs, ocorrendo à ampliação do Tratado para promover a conservação e o uso sustentável, assim como o bem-estar das populações humanas que dependem desses ambientes. A Convenção de Ramsar tem o propósito de conservação das AUs no nível internacional, porém somente depois de 25 anos foi incorporada no Brasil, pelo Decreto nº 1.905/96. O decreto de inclusão ocorreu depois de realizados inventários, no qual foi descrito que o Brasil tem a maior concentração de AUs do mundo. 

Após o decreto, se estabeleceram programas como o “IUCN wetlands programe”, da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), representado pela Universidade de São Paulo. Programas como este tem o objetivo de estimular organizações governamentais e não governamentais a elaborar propostas de iniciativas para o desenvolvimento sustentável e preservação das AUs. Com isso, houve um avanço das pesquisas e a maior percepção da necessidade de conservação desses ambientes. Em seguida, ocorreu a criação do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Áreas Úmidas (INCT-INAU), no pantanal mato-grossense, que vem trabalhando em parceria com grupos de pesquisas de todo território nacional para estabelecer definições, classificações e mais recentemente um inventário das AUs brasileiras para servir como base científica para políticas de proteção e manejo sustentável das áreas úmidas brasileiras (Figura 2; Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1re0go9-vqcQVeNO8zFu2keRberb6Bdgm/view?usp=sharing).

Figura 2: Livro do Inventário das Áreas Úmidas Brasileiras, publicado em 2024, com a participação de inúmeras Instituições Nacionais.

No inventário foi realizada a quantificação das áreas úmidas brasileiras, sendo avaliada a situação e tendência de mudanças desses ecossistemas, também, apontadas áreas que devem ser restauradas, localizadas áreas que estão desprotegidas, avaliados os riscos e vulnerabilidades, além de mapeados os serviços ecossistêmicos providos por esses ambientes. Neste inventário cinco capítulos se destacaram para a Amazônia: No capítulo 6 foram descritas as áreas úmidas ao longo dos grandes rios amazônicos (várzeas e igapós). No capítulo 7, descreveram as áreas úmidas do baixo rio Guaporé. No capítulo 11, fizeram a classificação das áreas úmidas das savanas de Roraima. No capítulo 12 destacaram os buritizais amazônicos. No capítulo 13 apresentaram as campinaranas como formações vegetais amazônicas sobre areias brancas.

Este inventário é uma ferramenta-chave para a formulação de políticas públicas e execução de ações que promovam a conservação, das AUs brasileiras e com destaque as da Amazônia. Apesar de necessário, este documento não é somente importante para a contribuição na ciência, mas também, para que o Brasil cumpra com os compromissos assumidos desde 1996, quando foi incluído como membro da Convenção de Ramsar.

 

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